quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

COMPUTADOR À NOITE PIORA A QUALIDADE DO SONO


Um estudo realizado na Unicamp comprovou que mais de 60% dos estudantes universitários dormem mal. E a causa principal é o uso do computador à noite - dependendo do horário, o índice de uso do computador no período noturno ultrapassa a marca de 70%.

O estudo, realizado pela psicóloga Gema Galgani Mesquita Duarte e orientado pelo professor Rubens Nelson do Amaral de Assis Reimão, foi publicado na revista Arquivos de Neuropsiquiatria.

O interesse em pesquisar a percepção do sono entre adultos jovens que ingressam na universidade surgiu a partir de um estudo anterior, no qual a pesquisadora investigou os padrões do sono relacionados à utilização do computador entre adolescentes que frequentavam o ensino médio.

Para dar continuidade ao estudo, Gema aplicou um questionário para mais de 1.400 estudantes universitários da Universidade Federal de Alfenas, em Minas Gerais. E, ainda, sobre a utilização de computadores e da televisão durante as noites, cochilos durante os dias e se as preocupações afetivas e financeiras influenciavam.

Para avaliar a qualidade do sono foi utilizado o Índice de Qualidade de Sono de Pittsburgh (IQSP), composto por 19 itens autoavaliativos. São considerados bons dormidores aqueles que obtiveram uma pontuação menor que cinco e maus dormidores, maior que cinco.

Cientistas e pesquisadores acreditam que a boa qualidade do sono seja imprescindível para a manutenção de uma vida saudável. Segundo estudos internacionais utilizados pela pesquisadora para balizar o trabalho, o sono, além ser importante para restauração da energia física, participa das atividades mentais e emocionais. Dormir mal pode repercutir nas atividades do aprendizado dentro e fora do ambiente escolar.

Esses mesmos estudos demonstram que a falta de sono ou sua má qualidade estão relacionadas com a diminuição da motivação e da concentração, déficits de memória, sonolência diurna e alterações de humor. Por outro lado, o sono de boa qualidade é apontado como fator-chave para o desempenho acadêmico.

O bom sono depende de regularidade dos horários de se deitar e de se levantar, da preservação do tempo de sono, de acordo com a faixa etária e livre dos distúrbios. . A qualidade do sono depende, ainda, da necessidade diária, a qual varia de indivíduo para indivíduo e de acordo com a idade.

De acordo com a literatura médica mundial, há uma variabilidade individual da necessidade do sono. Normalmente, um adulto jovem na faixa etária entre 17 e 25 anos precisa de sete a oito horas e meia de sono por noite. Há pessoas,  que com apenas cinco horas se sentem satisfeitas e restauradas para as atividades diárias.

Entretanto, alerta a pesquisadora, é importante que o período de dormir seja à noite, pois a fisiologia do sono depende do relógio biológico que, por sua vez, está sincronizado com o dia e a noite, isto é, o claro e o escuro - determinados pela rotação da Terra. O hormônio do sono, a melatonina, é metabolizado durante a noite.

Relógio biológico não é a única rota para a influência da luz sobre a saúde
Substância que controla relógio biológico pode virar pílula contra jet lag
Cronobiologia explica como o corpo se ajusta ao horário de verão

Quando analisada a utilização da televisão e do computador, observa-se que estes se assemelham na intensidade da emissão da luz, mas o modo de uso é diferente.

Diante do aparelho de televisão o telespectador se coloca, na maioria das vezes, confortavelmente sentado ou deitado, controlando os canais pelo controle remoto a uma distância de aproximadamente 3 metros da tela.

Diante do monitor do computador, o internauta fica a uma distância de 50 a 60 centímetros da tela e sua interação é muito mais ativa, tanto física como mentalmente.

No caso do computador, a luz emitida pelo aparelho fica muito próxima da retina. As células da retina, ao receberem estímulo luminoso, enviam uma mensagem elétrica que alcança o hipotálamo; este, além de comandar as glândulas do organismo, possui um pequeno núcleo onde se localiza o relógio biológico, essencial à manutenção dos ritmos e dos ciclos sono-vigília.

A intensidade, a variação e o horário das luzes emitidas pelos aparelhos incidindo sobre a retina desregulam no organismo a liberação normal de melatonina, o hormônio responsável pelo sono e, consequentemente, alteram sua qualidade.

"Quando você fica na frente do computador exposto à luz do monitor até a meia-noite, há atraso no ciclo vigília-sono. As pessoas vão demorar para dormir, e a metabolização do hormônio do sono será mais lenta. Quando essa exposição acontece depois da meia-noite, há um adiantamento dessa fase e as pessoas vão ficar mais sonolentas. O ideal, para que uma pessoa durma bem e tenha qualidade do sono, é que ela durma à noite e evite a claridade", explicou Gema.

Questão apontada pelo estudo foi que 83,4% das mulheres pesquisadas têm mais chance de dormir mal quando utilizam o computador entre o horário das 19 às 24 horas.. Com relação aos homens, o índice é de  47,7%, de acordo com a pesquisa.

Esta é outra questão apontada pela pesquisadora - a relação sono e obesidade. Segundo Gema, estudos internacionais demonstram que a diminuição do tempo do sono está relacionada com o aumento do sobrepeso da população, com o aumento da diabetes II, com problemas gastrointestinais, entre outros.

Isto acontece, segundo esses estudos, porque ao dormir o organismo produz um outro tipo de hormônio, chamado de peptina, que regula a sensação de fome. O sono equilibra todas as reações bioquímicas do organismo, mantendo o bom funcionamento das células do corpo, dos órgãos e sistemas endócrinos. A falta de uma boa qualidade do sono parece ter um impacto nos condutores fisiológicos do balanço energético, nomeadamente no apetite e no gasto energético.

"Dormir bem é fundamental à saúde. O computador é um excelente meio de comunicação, mas temos que investigar o que ele está causando na humanidade. Tudo isto eu comento na pesquisa", disse.

Na opinião de Gema, mais do que levantar hipóteses, a pesquisa mostra que está diminuindo o tempo de sono dos jovens e isto pode acarretar sérios problemas de saúde. "Você pode passar 12 horas na cama, mas se o sono for interrompido e não tiver qualidade, não será reparador e além do mais não se repõem as horas de sono perdidas", disse.

Para o futuro, a pesquisadora faz um prognóstico, definido por uma palavra: isolamento. As pessoas vão se comunicar dentro de casa pelo computador, cada uma em seu quarto. Será uma nova forma de comportamento. "Há uma pesquisa em andamento que estou orientando que avalia quão real é a emoção do internauta pela tela do computador.

http://www.diariodasaude.com/

Nenhum comentário: