O corpo físico será uma ferramenta decisiva conforme o uso que dele fizermos. Para muitos, realmente, o corpo é um mecanismo desconhecido, mas a tradição esotérica mostra-nos o corpo como um templo vivo e dinâmico, em que cada órgão é uma central energética, e onde há inteligência em todas as células. O verdadeiro caminho espiritual, ao invés de nos distanciar do corpo, ensina-nos a assumir a responsabilidade pelo que lhe ocorre, a perceber em profundidade este nosso fiel instrumento, e a descobrir e girar nele a chave para a unidade simultânea com Deus, com o universo e com o nosso próprio eu interior. O complexo funcionamento do corpo parece foi planeado por uma inteligência infinita:
“Escritos inconfundivelmente em cada célula, tecido, órgão, e glândula do corpo estão os sinais de uma mente certa de um propósito, planeando cada pormenor para uma finalidade definida”. As células são especializadas. Uma delas selecciona o cálcio, outra o fósforo. Uma prepara o potássio, outra o sódio. Há uma divisão de tarefas bem planeada e bem executada em cada aspecto do organismo. A inteligência cósmica opera tanto na misteriosa estrutura genética do nosso rim como nas leis que regulam a vida de uma galáxia. A tarefa do ser humano atento é aprender a comportar-se em harmonia com a vida subtil que coordena o seu próprio corpo físico e que faz parte da inteligência universal.
Os nossos pensamentos são importantes até mesmo para a vida celular. “O nosso corpo é feito de biliões de pequeninas células altamente sensíveis e sujeitas à influência da nossa mente”, escreveu Napoleon Hill. “Se a mente de uma pessoa é do tipo preguiçoso, as células do seu corpo tornam-se também preguiçosas. A preguiça é o resultado da acção de uma mente inactiva sobre as células do corpo. Se tiver dúvidas sobre isso, tome um banho e esfregue-se bem, estimulando deste modo as células do corpo, e verá como a preguiça desaparecerá. Ou então pense num jogo que lhe agrade muito e verá com que rapidez as células do seu corpo responderão ao seu entusiasmo”. Para Napoleon Hill, “as células agem de acordo com o estado mental, exactamente como os habitantes de uma cidade agem de acordo com a psicologia colectiva que a domina”. Hill acrescenta: “Se um grupo de cidadãos consegue fazer com que a cidade adquira a reputação de bem sucedida, essa acção beneficiará a todos os habitantes. O mesmo princípio se aplica às relações entre mente e corpo. Uma mente activa e dinâmica conserva as células do corpo em constante estado de actividade”
O cérebro e o coração são os dois grandes centros de comando da vida. Platão via a cabeça humana como uma miniatura do universo. Protegido pelo crânio, no ponto mais elevado do corpo humano, coordenando todas as nossas sensações físicas, memórias, reacções, estados de espírito e posicionamentos, está o comando cerebral, que opera em total unidade com o sistema cardíaco-respiratório. O cérebro pesa um quilo e meio e reúne 14 biliões de células. Por ele passa meio litro de sangue a cada minuto. Ele é lógico no seu hemisfério esquerdo, intuitivo e criativo no lado direito, emocional no seu sector límbico, e coordena as reacções automáticas e padrões vibratórios no seu tronco, situado no topo da coluna vertebral. O cérebro é a coisa mais complexa e maravilhosa que a vida física do planeta Terra já criou.
Segundo a sabedoria oriental, há sete cavidades ou espaços vazios no cérebro. Neles existe apenas akasha, luz astral. Cumprem uma função de ligação com o plano espiritual. A sabedoria egípcia diz, em linguagem simbólica, que esses ventrículos são “câmaras onde moram os deuses”. De acordo com os antigos, o cérebro humano era um templo. A sabedoria esotérica afirma ainda hoje a mesma coisa. Os alquimistas consideram que as virtudes celestiais são captadas pelo cérebro sob a forma de “orvalho”. A tradição rosacruz e a cabala usam a mesma imagem ao descrever a intuição, pela qual o cérebro capta as vibrações da inteligência cósmica e da harmonia universal 3. O maná da Bíblia cristã é o mesmo orvalho da cabala e da alquimia. Em o Exôdo 16:13-15, o alimento que cai do céu em forma de orvalho é, sobretudo, espiritual. No Evangelho de João (6:33-35), Jesus Cristo confirma esse significado do orvalho como símbolo da inspiração espiritual que desce até à mente pura.
Além do cérebro, o outro grande comando visível da vida do corpo humano é o coração. Com 300 gramas de peso médio, é do tamanho de um punho fechado e bate cerca de 90 mil vezes a cada dia que passa. Bombeia cinco toneladas de sangue no mesmo período. Quando recolhe o sangue venoso, que lhe chega com gás carbónico e detritos, o coração envia-o para o pulmão, que o devolverá purificado e rico em oxigénio. O coração, então, lança o sangue reciclado para todo o organismo. Não é à toa que o coração é símbolo de várias virtudes humanas, inclusive o heroísmo. Ele não pára de trabalhar, rodeado e ajudado pelos pulmões, cuja eficácia é admirável. Manly Hall escreveu que um coração, arrancado de um corpo, pode bater sem parar por até meia hora. Ele não precisa do comando cerebral para bater.
Esotericamente, o coração é a sede da vida. Ele é o sol do nosso corpo. A nossa vida foi confiada sobretudo a ele. Se no cérebro há um ponto em que pulsa a energia do Senhor Deus [Mestre Sanat Kumara, o Senhor do Mundo na tradição oriental], no coração brilha um raio um raio da luz de Cristo, Buda, a compaixão universal. É o coração que cria condições para que o cérebro receba do céu o orvalho divino. Cabe aqui fazer uma pergunta: o coração purifica o sangue, mas quem purifica o coração? Na verdade, ele depende do comportamento correcto do resto do corpo para que possa estar saudável. Necessita que o corpo tenha quantidade adequada de exercícios, que a alimentação seja correcta e que as emoções e pensamentos sejam equilibrados para manter-se puro e, assim, dar condições ao cérebro de captar o orvalho da paz celestial. Os Upanishades, escrituras hindus, abordam a questão:
“Quando o uso dos sentimentos é purificado, o coração se purifica. Quando o coração é purificado, existe uma constante lembrança do Eu superior. Quando existe uma constante lembrança do Eu superior, todos os vínculos são desfeitos e a liberdade espiritual é alcançada.”
Para os Upanishades, o coração é a sede da nossa consciência imortal, e nele mora Brahman, o Deus criador do Universo. O próprio princípio hermético da tradição egípcia, segundo qual o cosmo inteiro está contido em cada uma das suas partes, pode ter sido inspirado pela sabedoria milenar dos hindus. Diz o Chandogya Upanishad:
“Dentro da cidade de Brahman, que é o corpo, existe o coração, e dentro do coração existe uma pequena casa. Essa casa é como um lótus. Dentro dela mora aquilo que deve ser procurado, investigado e percebido.”
No Plano Físico, esta moradia mística inclui dois ventrículos ou cavidades que controlam o trabalho do coração. O ventrículo direito produz a contracção que empurra o sangue usado de volta aos pulmões. O ventrículo esquerdo contrai-se mandando o sangue novo e oxigenado para a aorta, de onde irá para todas as células do corpo. Em conjunto, os ventrículos controlam o ritmo da vida.
O processo vital é uma ondulação musical entre ar novo e ar velho, contracção e expansão, esforço e descanso, som e silêncio. O coração é como o corpo de um pássaro cujas amplas asas são os pulmões. Quando o pássaro está a baixa altitude, as asas batem apressadamente; quando o pássaro voa alto, as asas batem serenamente. Daí a importância da respiração profunda, que leva a estados de consciência firmes e elevados.
Prossegue o Upanishad: “O que é então que, morando dentro desta casa, desse lótus do coração, deve ser procurado, investigado e percebido? (Resposta) Tão grande quanto o Universo exterior é o Universo dentro do lótus do coração. Dentro dele estão os céus e a Terra, o Sol, a Lua, o relâmpago, e todas as estrelas. O que está no macrocosmo está nesse microcosmo.”4 O lótus do coração corresponde também ao chakra cardíaco, um centro de força cósmico que é a grande fonte de paz universal no nosso interior. Para que este centro entre em plena actividade, no entanto, é necessário que o coração esteja livre de egoísmo.
O sangue, constantemente reciclado pelo coração, tem, segundo o médico e alquimista Paracelso (1490-1541), “um espírito de ar e de fogo”. A ciência moderna dá detalhes: o sangue humano - cerca de seis litros para uma pessoa de 70 quilos - contém cerca de 25 trilhões de glóbulos vermelhos transportadores de oxigénio e outros tantos glóbulos brancos ou leucócitos, encarregados da defesa do organismo contra bacilos e bactérias. Quando há uma infecção, o pus constitui um amontoado de cadáveres de glóbulos brancos que morreram defendendo a saúde do organismo.
Cabalisticamente, escreve Manly Hall, o sangue é um fluido eléctrico carregando consigo em suspensão o princípio vital absorvido pela respiração, que a sabedoria hindu chama de prana. Em todas as culturas humanas, o sangue é visto como um poderoso símbolo da vida. Em alguns povos antigos, quando os homens queriam firmar um compromisso irreversível, costumavam jurar derramando solenemente uma ou duas gotas do seu próprio sangue.
O fígado tem menos prestígio que o cérebro, o coração ou o sangue, porém a sua importância é fundamental, porque separa o joio do trigo. Com 1,7 kg de peso, o fígado contém em si a quarta parte do sangue do corpo e produz um litro de bílis por dia. Líquido de cor esverdeada, a bílis cumpre papel decisivo ajudando a digerir gorduras. Assim como o pâncreas, o fígado digere gorduras em grande escala. Ele também produz açúcar, que é essencial para os músculos, e destrói substâncias nocivas. Recicla-as, quando isso é possível, ou decide pela sua eliminação. Além de tudo, o fígado ainda recicla os glóbulos vermelhos que não servem mais para o transporte do oxigénio, e encaminha a parte útil deles para que novos glóbulos vermelhos sejam produzidos no baço e na medula dos ossos.
Muitas pessoas agridem os seus organismos movidas pela gula e porque não sabem da necessidade de uma alimentação adequada. Assim, o fígado é frequentemente forçado a trabalhar demais. Maneiras práticas de ajudar o fígado, são fazer respiração profunda, não comer demasiadamente e manter uma dieta leve e saudável, sem excesso de gorduras.
Segundo o Suwen, um tratado de medicina chinesa tradicional, o fígado é o grande gerador de forças, o criador da cólera, da coragem e das virtudes do guerreiro. Ele também é associado à natureza inferior e às qualidades menos nobres da personalidade. Porém, o fígado que não seja sobrecarregado e tenha boas condições de trabalho conseguirá manter o sangue puro, ajudado pelos rins e por toda a equipa de transmutação química do nosso organismo.
Com isso, o coração e o cérebro serão beneficiados, tornando a vida espiritual mais fácil e dando a ela uma base física sólida.
O fígado está simbolicamente associado às provações do caminho espiritual. No mito de Prometeu, o herói rouba o fogo divino de Zeus, activando a espiritualidade humana, mas passa a ter o seu fígado devorado durante cada dia por uma águia. O significado esotérico da história inclui o facto de que, quando alguém se conecta com a energia divina, deve pagar o preço correspondente em termos de purificação pessoal, tarefa chefiada no Plano Físico pelo fígado. No caso da gula, por exemplo, um problema emocional - a busca cega de prazer físico imediato - acarreta um problema físico, um físico sobrecarregado de trabalho, o que repercute sobre a função renal.
Os dois rins trabalham como analistas químicos e são responsáveis directos pela qualidade do sangue. Eles filtram constantemente o sangue, eliminando pela urina o que for inútil ou nocivo. Simbolicamente, os rins estão associados à força e à resistência diante das adversidades.
A tradição esotérica vê duas árvores simbólicas no corpo humano. O tema da árvore, aliás, está presente em todas as tradições religiosas. A árvore da vida tem as suas raízes no alto, no divino, no Sol ou no céu, conforme os vários mitos e tradições. No caso do corpo humano, há pelo menos duas árvores trabalhando em conjunto. Uma, é o sistema nervoso, presente em todo o organismo, mas cuja raiz é o cérebro. Por essa árvore corre energia etérica, basicamente eléctrica. A outra árvore é formada pelas ramificações do sistema circulatório, e a sua raiz é o coração. Por ela corre a energia vital. Para a sabedoria esotérica, o fenómeno da vida humana e animal é precisamente a reunião do princípio vital, prana, administrado pelo coração, com o princípio eléctrico-etérico, administado pelo cérebro. O coração e a mente governam a vida. O cérebro capta e produz electricidade etérica no alto do corpo e transmite-a para detonar e dar estímulo às transmutações da vida biológica. Ao mesmo tempo, o prana é captado pelo aparelho respiratório e colocado à disposição de cada célula pelo “departamento de circulação” do organismo, que também recolhe mensagens e detritos por onde vai passando. É no sangue que a vida se renova a cada segundo.
Não se pode pensar ou sentir a vida espiritual como algo divorciado do nosso corpo físico. Ao contrário, é necessário reconhecer que o corpo físico é um processo espiritual, e então agir à altura desta percepção. O estudo do sistema endócrino, por exemplo, mostra como se dá a ponte do mundo físico para o mundo subtil. O sistema glandular trabalha como uma equipa entrosada. Uma glândula é qualquer órgão que produz alguma substância. Se a substância vai para actividades relativamente externas, como é o caso da bílis, da saliva e do suor, a glândula é chamada de exócrina. Se a substância vai para o sangue, a glândula é chamada de endócrina. O sistema endócrino é o conjunto das glândulas que lançam hormónios no sangue. A palavra hormónio vem do grego e significa “mensageiro”. Através dos seus mensageiros, as glândulas endócrinas regulam quimicamente as funções do corpo.
As endócrinas, diz a sabedoria esotérica, são uma verdadeira hierarquia oculta funcionando no corpo humano. Não é por acaso que a ciência engatinha no seu estudo. O segredo da vida passa pela sua compreensão. A mais conhecida é a tiróide, situada no pescoço, logo abaixo do pomo-de-adão. Ela regula a velocidade e o ritmo geral do corpo, inclusive o batimento cardíaco, a actividade mental e a atitude diante da vida. A tiróide é vista como mediadora entre as emoções e os pensamentos. Outras glândulas endócrinas são as quatro paratiróides, as supras renais, o timo, os ovários, na mulher, e os testículos, no homem.
O sistema endócrino está organizado como uma orquestra, e os estudiosos usam a palavra mestre para designar a glândula que, aparentemente, comanda o espectáculo: a hipófise ou corpo pituitário, situada no centro do crânio, na altura da ponta do nariz. Ela envia mensagens bioquímicas de comando para as outras glândulas endócrinas. Segundo a sabedoria esotérica, a hipófise trabalha para o antahkarana, a ponte entre o eu imortal e o eu terrestre, do mesmo modo como a tiróide faz a ponte entre pensamentos e emoções.
Há, porém, uma glândula que comanda a própria hipófise, segundo os sábios orientais. Trata-se da glândula pineal, sede da visão intuitiva, o instrumento mais elevado da alma imortal. Para René Descartes, o filósofo francês do século 17, “a glândula pineal é a sede da alma”. De acordo com a sabedoria esotérica, a pineal é a ponte entre o mundo objectivo e o mundo subjectivo. Com o tamanho de uma ervilha, localizada a pouca distância da hipófise, essa pequena glândula é a sede da percerpção intuitiva ou “terceiro olho”. Quando o sábio aprende a comandá-la, pode comandar também, conscientemente, todo o metabolismo do seu corpo.
O que fazer enquanto não chegamos a esse ponto da nossa evolução? A qualquer momento, qualquer pessoa pode colaborar com o trabalho do seu sistema endócrino. São recomendáveis a prática regular da meditação e a leitura calma de bons textos sobre a sabedoria da vida. A aurto-observação atenta, feita do ponto de vista do potencial divino presente em cada sert humano, é outro item de importância. Na prática da auto-observação, o estudante da sabedoria identifica os seus erros sem autocondenação ou autojustificação e decide serenamente corrigi-los, tanto na vida externa como na vida interior.
Os significados ocultos do imenso laboratório vital que é o corpo humano podem estimular uma avaliação mais séria da nossa atitude diante da vida. Os ensinamentos espiritualistas são unânimes em afirmar que o corpo físico é a casa que a alma habita. Mas frequentemente esquecemos que cada célula e cada órgão desta casa viva são dotados de uma inteligência activa e trabalham o tempo todo para o nosso bem-estar. Pessoalmente, sinto uma misteriosa gratidão por tantas inteligências que operam para proteger-me dos erros que cometo e das dificuldades que enfrento na vida, à medida que respiro, trabalho, caminho e tenho emoções. O sentimento de parceria consciente com todas as inteligências vitais que tornam possível a saúde do nosso corpo, torna-nos mais sensíveis à necessidade de dar boas condições de trabalho às nossas células, pulmões, coração, estômago, rins e outros órgãos. E isso é tão importante para a vida espiritual quão necessário para a vida material.
A harmonização de céu e terra na vida humana não é um facto isolado mas integra o plano divino para o terceiro milénio. O ponto actual da agenda da nossa evolução é a recuperação da harmonia interna, do equilíbrio e da unidade consciente com toda a vida. Esse é o estágio que a humanidade deve atingir e está atingindo agora. E quando sintonizamos nossa energia pessoal com a vitória da verdade e da vida, o vasto ecossistema do nosso corpo e o nosso sistema emocional funcionam melhor. Isso, por sua vez, estimula a vitória da vida e da verdade ao longo do caminho.
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