quinta-feira, 27 de maio de 2010

PODER ANALGÉSICO DA MENTE

Estudos já mostraram que quando você realmente acredita que não vai doer, quase não dói mesmo. Um estudo feito recentemente por um grupo italiano indica como seu cérebro processa: produzindo opióides próprios que agem especificamente sobre a representação mental daquela parte do seu corpo que vai sofrer o ataque. Assim, a anestesia "psicológica" é dirigida somente àquela porção do corpo, preservando a sensibilidade das outras.

Fabrizio Benedetti, Claudia Arduino e Martina Amanzio, da Universidade de Torino, contaram com a participação de 173 voluntários no estudo.

Todos os voluntários recebiam uma injeção de capsaicina, um dos princípios ativos da pimenta, simultaneamente nas costas das mãos e no dorso dos pés. A injeção de capsaicina provoca uma dor ardente localizada. A cada minuto, os voluntários avaliavam a intensidade da dor em uma escala de 0 (nenhuma dor) a 10 (dor insuportável). Em média, os voluntários avaliaram a dor inicial como 5 ou 6, decaindo gradualmente até desaparecer (dor 0) 15 minutos após a injeção.

Alguns voluntários, no entanto, receberam antes da injeção um creme aplicado a uma das mãos, ou a um dos pés. O creme, apresentado como "um anestésico local poderoso que alivia a ardência da capsaicina", era na verdade um placebo, uma mistura de óleo de tomilho e água, sem ação anestésica própria. Resultado: enquanto a dor inicial percebida nas outras partes do corpo era avaliada em 5-6, a dor inicial na mão ou pé que havia recebido o placebo recebia um mero "3", e desaparecia mais rapidamente, em apenas 10 minutos!!

Estudos anteriores haviam mostrado que a antecipação de um efeito analgésico leva à produção de opióides pelo cérebro, que então agem sobre o próprio cérebro diminuindo de fato a sensação de dor. No estudo italiano, o efeito "analgésico" do creme pôde ser anulado por uma injeção prévia de naloxone, que bloqueia a ação de opióides, mostrando que a dor reduzida em decorrência da expectativa era de fato devida à produção de opióides endógenos. A grande novidade deste estudo é mostrar que o opióide produzido na expectativa da analgesia age somente para a parte do corpo que recebeu o suposto analgésico. A explicação mais simples oferecida pelos pesquisadores é que o opióide produzido não atua no cérebro em geral, mas somente nas regiões do cérebro que representam aquela parte do corpo que é objeto da expectativa.

Em outras palavras: se você acredita piamente que seu dedo mindinho da mão esquerda está anestesiado e não vai sentir dor, seu cérebro produz opióides que agem na representação do seu dedo mindinho da mão esquerda, e só nela, e anestesiam seu mindinho pra você. Mesmo que o "anestésico" que lhe aplicaram no mindinho tenha sido só um placebo.

Dá até pra criar uma frase para essa nova explicação biológica do "poder de sugestão" da mente: "Me engana, que eu produzo uns opióides e gosto..."
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