terça-feira, 18 de junho de 2019

INTERAÇÃO ENTRE CÉREBRO E CORAÇÃO DEFINE A CONSCIÊNCIA DA PESSOA


Uma equipe de investigadores da École Normale Supérieure, em Paris, incluindo a portuguesa Mariana Babo-Rebelo, concluiu que existe uma interação entre o cérebro e o coração, que define, numa pessoa, a consciência de si própria.

"Há uma interação entre o cérebro e o coração, que define o sujeito", sustentou à Lusa Mariana Babo-Rebelo, a finalizar o doutoramento no Laboratório de Neurociências Cognitivas da École Normale Supérieure.

Para chegar a esta conclusão, a equipe, liderada pela cientista Catherine Tallon-Baudry, socorreu-se da magnetoencefalografia, técnica que permite mapear a atividade do cérebro através da medição dos minúsculos campos magnéticos produzidos por correntes elétricas dos neurónios (células cerebrais).

Vinte jovens saudáveis, entre os 18 e os 30 anos, foram submetidos a esta técnica. Enquanto olhavam para um ecrã, os seus pensamentos eram, de vez em quando, interrompidos por um sinal, um 'flash', que aparecia nesse ecrã.

Os investigadores pediram, depois, aos participantes, para que se lembrassem do pensamento que tinham tido antes de serem interrompidos pelo 'flash' e para dizerem se o pensamento se relacionava com eles próprios.

A equipa analisou a atividade do cérebro durante os pensamentos que os participantes tiveram nos dois segundos que antecediam os 'flash' no ecrã.

Posteriormente, mediu a resposta do cérebro ao batimento cardíaco.

"A cada batimento cardíaco, o coração envia um sinal elétrico para o cérebro, que responde a esse sinal. Uma resposta da qual podemos medir a amplitude", assinalou Mariana Babo-Rebelo, que realizou o seu mestrado no laboratório do neurocientista português António Damásio, nos Estados Unidos.

O grupo de investigação da École Normale Supérieure avaliou os sinais emitidos por dois batimentos cardíacos antes de cada 'flash' e a atividade produzida pelos neurónios a seguir a cada um dos batimentos.

Mariana Babo-Rebelo explicou que, "enquanto o sinal cardíaco é o mesmo, não havia aceleração", o sinal cerebral é diferente. "Quanto mais amplo, mais a pessoa está a pensar em si", advogou.

Para a investigadora, o estudo é "mais um passo para a compreensão da 'consciência de si'".

A equipa propõe-se desenvolver novas experiências para confirmar os resultados obtidos e estudar a interação do cérebro com outros órgãos, nomeadamente o intestino, que, segundo Mariana Babo-Rebelo, "pode estar a participar" na definição da consciência da pessoa.

Além disso, os cientistas querem aferir se, por exemplo, existe alguma alteração nesta interação em doentes depressivos e esquizofrénicos, em que a noção de consciência de si próprios diverge.

Os resultados da investigação foram divulgados, esta semana, na publicação científica The Journal of Neuroscience.

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