segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

HÚMUS, HOMEM E HUMILDADE


No universo fantástico das idéias e das palavras, humildade ocupa um lugar de destaque. Ela tem vários sentidos, alguns deles díspares, outros opostos, mas todos belos. Exatamente por causa da profusão de significados que possui, humildade pressupõe riqueza e diversidade.

Humildade representa as coisas mais simples e ingênuas, mas também as maiores complexidades. Para alguns é sinal das fraquezas humanas, para outros, a mais sublime das virtudes. Etimologicamente, humildade vem do latim Humus, de onde também deriva Homem (Homo sapiens) e Humanidade. O fato dessas palavras estarem vinculadas à húmus, é certamente uma sábia exortação de que mantemos com a terra um vínculo eterno e embrionário. Reconhecer e aceitar essa verdade é não somente um princípio elementar de ecologia profunda, mas uma apologia ao valor e à lição da humildade.

Se a humildade está relacionada com solo fértil e produtivo, talvez a ostentação, a luxúria e o esnobismo representem o oposto disso e portanto, não passem de terra desgastada e empobrecida, talvez simples cascalho.

É bem provável que o senso original da palavra humildade tenha sido modificado intencionalmente ao longo do tempo e sob influência do capitalismo. Talvez isso contrariasse os interesse dos ricos de matéria ou então dos pobres de espírito. Não é à toa que convencionou-se associar humildade à pobreza, sendo quase inconcebível a idéia de um rico humilde ou de um humilde rico. Que desvirtuamento!

Não gosto de apelos religiosos ou místicos no que escrevo, mas talvez seja por isso que o grande mestre Jesus tenha dito "quem se humilha será exaltado e quem se exalta será humilhado".

Humildade é simples por natureza e por isso não comporta a bazófia, a prepotência e mentira. Ela é como a água, de valor extremo no ato consciente do apreço ou diante da força irresistível da necessidade.

Compete a cada um de nós dar ou reconhecer a importância intrínseca da humildade nas circunstâncias em que vivemos.

Humildade não é submissão ou medo, nem a falta de dinheiro, mas consideração ao próximo, a Deus e à vida. Também, ela não é covardia diante do inusitado ou do forasteiro, mas uma reverência condigna e uma demonstração de modéstia e respeito.

Infelizmente, no mundo atual, dominado pela propaganda e pela postura excessivamente iconoclasta, a humildade parece anacrônica e às vezes serve de pecha. No frenesi da competição e num meio social dominado pela aparência, auto-promoção e farsa, às vezes é arriscado assumir a humildade. Isso faz parte da evolução das sociedades e é bom que sejamos adaptativos, mas é indispensável não perder a real dimensão da humildade. Nesse meio tão hostil da sociedade consumista, talvez seja prudente mantê-la dissimulada, guardada na alma com muito zelo e cuidado.

Não me recordo das predicações verbais e discordo de certas regras gramaticais sem sentido ou propósito e por isso não concebo o verbo humilhar como sinônimo de ser humilhado. Dependendo do contexto ou da interpretação, estas duas formas indicam ações antagônicas, uma denotando rebaixamento e opressão, outra crescimento e mérito.

Devo fazer uma última observação sobre a etimologia de Humildade: Além de húmus, como vimos, provavelmente esta palavra também esteja relacionada ao termo grego Homo, com o sentido de unidade e integridade. Essa é uma clara evidência de que, além de sermos únicos, somos semelhante ao próximo, temos a mesma origem e um destino comum, somos irmãos, porque filhos de um mesmo Pai.

Dr.Geraldo Mendes dos Santos
http://www.samauma.biz/

Washington Luiz Rodrigues enviou esta Mensagem

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