domingo, 4 de dezembro de 2011

MEDICINA E HOLISMO

Hélio Teixeira
Professor Titular e Livre-Docente do Departamento de Clínica Médica
Universidade Federal de Uberlândia, MG.

Esta conceituação antropológica serve para introduzir o médico na percepção holística do ser humano e pretende servir de base para uma nova racionalidade, ao fixar o homem em íntima conexão com seu interior e exterior (universo), considerando-o como parte indissociável do mesmo e inevitavelmente ligado ao seu destino. Holismo (de holos: todo) representa um sistema que vem sendo cogitado desde Heráclito, na antiguidade grega, mas que passou a ser mais sistematizado a partir da publicação do livro Holism and Evolution por Jan Smuts em 1921. Procura ser um modelo científico baseado na interrelação dos fenômenos, onde tudo tem a ver com tudo, não só no ser humano, mas em todo universo, num entrelaçamento que une tudo a tudo. Carl Gustav Jung (1875-1961), considerado um dos criadores do pensamento sintético ou conclusivo, criou a expressão sincronicidade para descrever a “simultaneidade, coincidência significativa ou princípio de conexões acausais”2, com ênfase nas interconexões dos fatos. Jung, inicialmente considerado o seguidor natural de Freud, afinal divergiu fundamentalmente de seu ex-mestre e salientou que “...a análise, na medida em que se restringe à decomposição, deve ser necessariamente seguida por uma síntese.”11 Leonardo Boff12 explica que “o holismo não significa a soma das partes, mas a captação da totalidade orgânica, una e diversa em suas partes, mas sempre articuladas entre si dentro da totalidade e constituindo esta totalidade.”

A percepção do ser humano em sua totalidade adota este sistema de síntese ou agregação dos componentes do ser, ao contrário do método cartesiano analítico, reducionista, fragmentário ou dissociativo. Procura juntar para conhecer. Enfatiza o físico, mas intimamente interrelacionado com a mente, a consciência, o espírito e com as energias do universo. Considera a doença adquirida não como causa, mas como conseqüência do distúrbio interior do ser e admite que o tratamento limitado a ela, doença, é muitas vezes insuficiente para alcançar a cura definitiva (fig. 4). E as doenças teriam, necessariamente, um fundamento muito além da nossa percepção atual e, com certeza, passariam pelas diferentes dimensões do ser até se manifestarem no corpo, etapa mais evidente deste processo. Em nosso estágio evolutivo atual, estamos longe de entender com clareza os íntimos fenômenos da natureza, seja no macro (universo), seja no microcosmos (ser). Assim, não temos resposta ainda para as inúmeras perguntas que surgem.

A boa prática médica atual exige, no entanto, que se entenda o doente para explicar sua doença. Esta nova realidade poderá vir a se constituir em um novo paradigma, o holístico, que, acredita-se, deverá complementar o antigo paradigma cartesiano-newtoniano e engrandecer o conhecimento do todo. Sob este novo paradigma, espera-se que o médico se volte mais para o ser humano, utilizando meios existentes - ou ainda por existir - que verdadeiramente possam favorecer seu equilíbrio pleno, fazendo com que a essência do ser - pneuma - atinja seu destino de evolução, qual seja, a perfeição em Deus. É preciso ousar para progredir, com consciência de que nosso destino está além do que conhecemos hoje. As modalidades terapêuticas filosoficamente mais voltadas para o ser, como homeopatia e acupuntura, em que pesem as incertezas a respeito, aliadas à psicologia transpessoal com abordagem transdisciplinar e complementadas pela ação medicamentosa efetiva na doença, poderão significar um modelo de conduta integral frente ao ser doente, resultando em benefício mais nítido ao mesmo.

Matéria completa www.medonline.com.br/med_ed/med8/holismo.htm

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