Os movimentos finos de nossas mãos ainda são
comandados pelos polegares, que, nos últimos anos, aprenderam a digitar
velozmente em telas touch de smartphones e tablets. Esses aparelhos poderosos e
de uso intuitivo se tornaram de tal modo uma extensão de nossos dedos que
passaram a moldar o comportamento de uma geração inteira.
Os jovens que hoje têm
15 anos conhecem a vida com um celular nas mãos. Eles não são os primeiros a
crescer sob a influência da internet, mas os primeiros a se definir pela ligação
com um universo digital e móvel: com o celular conectado à internet, carregam no
bolso as amizades, a escola, o trabalho e uma fonte inesgotável de conhecimento.
Ainda não há um nome estabelecido para eles. Há quem fale em geração Z ou
pós-millennials. Pode-se batizá-los de "geração touch".
Estima-se que os jovens nessa faixa etária sejam
hoje 26% da população mundial. Em pouco mais de uma década, eles deverão
representar 75% da força de trabalho global. Muitos estarão à frente do próprio
negócio. Vão se casar, ou se unir em outros tipos de relação estável. Terão os
seus filhos. Pintar um retrato dessa multidão implica, obviamente, passar por
cima de diferenças marcantes. A influência do lugar onde se nasce não deve ser
ignorada, mesmo que esses adolescentes, vivendo ao redor do planeta mas
interligados pela tecnologia móvel, tenham, como nenhuma outra geração anterior,
um mesmo repertório de referências, imagens, informações. E a adolescência -
bem, a adolescência continua a ser o turbilhão que sempre foi. Não há remédio
para a maneira como ela exacerba comportamentos e traços de personalidade.
Segundo os estudiosos, no entanto, o perfil de grupos etários que compartilham
experiências culturais, econômicas e políticas pode ser codificado e estudado de
maneira proveitosa.
É na escola que a primeira característica da
geração touch se torna evidente. Pesquisas internacionais demonstram que 52% dos
adolescentes usam o YouTube e as redes sociais para estudar. "Prefiro ver as
aulas de matemática e ciência em vídeo - para mim é muito mais fácil de
entendê-las", diz a mineira Gabriela Salles, que confessa que passa doze horas
por dia conectada.
Ainda é cedo para ter certeza do impacto que esse
uso constante da internet terá na formação dos jovens. Neurocientistas como
Maryanne Wolf, da Universidade Tufts, observam que a leitura não é uma atividade
natural para a espécie humana, e depende de circuitos cerebrais que requerem o
treino da atenção prolongada para se formar. Um efeito colateral desse
aprendizado é a ampliação da capacidade de analisar ideias. A imersão permanente
na internet, em aplicativos e redes sociais, estimula de maneira diferente os
jovens.
A geração touch está habituada a lidar
simultaneamente com até cinco telas. São três telas a mais em comparação com
seus antecessores imediatos da chamada geração Y, que hoje têm por volta de 30
anos.
Pesquisas feitas por médicos e psiquiatras do
Canadá e dos Estados Unidos confirmam que os adolescentes de hoje demonstram um
limite médio de atenção reduzido: são apenas oito segundos, e 11% deles são
diagnosticados com transtorno de déficit de atenção. Existe, portanto, um risco
no horizonte. Mas faltam estudos para que se possa chegar a conclusões sólidas.
"Não há dúvida de que eles aprendem de maneira diferente", diz Wilton Ormundo,
diretor do ensino médio da Escola Móbile, em São Paulo. "Isso nos levou a usar
não só o computador mas até o celular e as redes sociais na escola. Não é
possível excluir das aulas essas ferramentas tão naturais para eles. Grande
parte do nosso trabalho atual é ensinar a selecionar as informações e oferecer
formas de lidar com as distrações e as multitarefas. Mas não acredito que por
isso eles são mais superficiais ou aprendem menos. Na verdade, são bastante
exigentes e têm conhecimentos integrados, abrangentes e
internacionalizados."
Rita Loiola e Raquel
Carneiro
Revista Veja
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