O Vaticano parece estar preocupado com outras bíblias, sobretudo a chamada "bíblia da psiquiatria", ou DSM-5.
O novo Manual de Doenças Mentais chegou cercado de polêmica, acusado deinventar doenças para aumentar o mercado dos psiquiatras e de posturas mais específicas, como a de ajudar a perpetuar mito da loucura feminina.
As lideranças da Igreja Católica estão particularmente preocupadas com a prescrição em larga escala de psicotrópicos para crianças, o que é diretamente afetado pelas novas definições de "doenças mentais" dadas pelo manual DSM-5.
Os medicamentos psiquiátricos já se estabeleceram como a primeira linha de tratamento para jovens com problemas emocionais e comportamentais.
Esses medicamentos são tradicionalmente conhecidos como ISRS (inibidores seletivos da recaptação da serotonina).
Ao mesmo tempo, a utilização da intervenção psicossocial está sendo deixada de lado.
Para discutir o assunto, o Vaticano organizou uma conferência com especialistas internacionais, colocando a todos a pergunta: "O aumento nas taxas globais de prescrição de psicotrópicos para crianças justifica-se com base nas evidências dos testes clínicos?"
Entre os participantes estavam o Dr. David Cohen - um dos mais citados especialistas no campo do diagnóstico do transtorno bipolar em crianças e adolescentes - e a Dra Joanna Moncrieff, psiquiatra e autora do livro "O Mito da Cura Química".
A equipe interdisciplinar incluía ainda o premiado jornalista Robert Whitaker (autor de Anatomia de uma Epidemia), Irving Kirsch (autor de As Novas Drogas do Imperador) e o renomado psiquiatra Sami Timimi.
O debate se concentrou não apenas sobre a adequação do tratamento com psicotrópicos para crianças e adolescentes, mas também sobre a segurança e a eficácia dos psicotrópicos em comparação com outros tratamentos.
A conclusão dos debatedores foi de que, com base nas melhores evidências científicas disponíveis, as terapias psicossociais devem ser a primeira escolha de qualquer profissional de saúde que esteja atendendo crianças e adolescentes com problemas comportamentais.
O Vaticano não divulgou como pretende usar as conclusões do evento.
Diário da Saúde
Nenhum comentário:
Postar um comentário