Alguns
dos criadores de tecnologias e apps que dominam nosso dia a dia parecem
determinados a manter seus filhos longe das telas de celulares e tablets.
Entre
a geração de empreendedores do Vale do Silício que criaram as maiores empresas
de tecnologia do mundo, muitos estão se tornando pais. E alguns estão
restringindo o acesso das crianças a ferramentas de que muitos de nós abusamos.
O
criador da Apple, Steve Jobs, admitiu em 2011 que ele e sua esposa, Laurene
Powell, limitavam o acesso dos filhos à tecnologia dentro de casa.
O
fundador da Microsoft, Bill Gates, também é conhecido por restringir o tempo em
frente a telas e por banir celulares na mesa de jantar.
Já
Mark Zuckerberg, do Facebook, escreveu uma carta para sua filha recém-nascida,
em 2017, pedindo que ela "saísse de casa e brincasse".
Mas
por que esses pais do Vale do Silício estão mantendo seus filhos longe das
telas?
Infância
livre de tecnologia
Pierre
Lauren é um executivo do setor de tecnologia no Vale do Silício e diretor de
uma escola Waldorf na região - uma escola privada, popular no Vale do Silício,
que evita o uso de tecnologia até que os alunos cheguem aos dez anos.
Laurent,
cujos três filhos frequentam a escola, conta para a BBC que três de cada quatro
pais com filhos na Waldorf trabalham com tecnologia. A escola recomenda que
prestem atenção nos efeitos nocivos da tecnologia no processo de aprendizagem
das crianças.
"Quando
você é criança, você não pode aprender a partir de um pequeno pedaço de vidro.
Você precisa estimular os seus sentidos, você precisa alimentar o cérebro com
tudo que puder", afirma Laurent.
Contradição
aparente
A
Waldorf da região ganhou os holofotes pela primeira vez quando a imprensa
começou a apontar essa aparente contradição do Vale do Silício.
É
justamente ali - no principal centro nervoso do setor de tecnologia no mundo -
que encontramos uma escola que defende o que chama de "uma educação
holística para o coração e a mente".
O
currículo escolar da Waldorf é focado em "habilidades do século 21",
como confiança e auto-disciplina, pensamento independente, trabalho em equipe e
expressão artística.
"Essas
capacidades humanas não se desenvolvem em frente a uma tela. Você precisa estar
engajado em fazer e construir coisas você mesmo", fala Laurent.
Tecnologia
na sala de aula
Apesar
dessa mensagem ter cada vez mais espaço na nova geração de pais do Vale do
Silício, muitos outros acreditam que a tecnologia é, sim, necessária para o
século 21 - tanto para o aprendizado dentro da sala de aula quanto para uma
pessoa se tornar bem-sucedida no mercado.
Merve
Lapus é diretor sênior da Common Sense Media, uma organização que aconselha
famílias sobre tecnologia e entretenimento digital. Ele passou quase uma década
analisando e dando conselhos para pais sobre os potenciais benefícios e riscos
do uso da tecnologia na sala de aula.
"Sim,
a tecnologia pode se tornar uma distração, então o que podemos fazer contra
isso? Porque há muita oportunidade (para as crianças usarem tecnologia), mas
também (há o fato de que precisamos) prepará-las para o mundo real, que vai
exigir o uso de muitas dessas ferramentas", diz ele.
Ponto
de equilíbrio
A
Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou, recentemente, novas recomendações
diminuindo o tempo indicado para crianças passarem em frente às telas.
Crianças
com até dois anos não devem ser deixadas passivamente em frente à TV ou outras
telas, recomenda a OMS. Já o limite para crianças entre dois e quatro anos é
uma hora por dia ou menos.
Mas
Lapus pondera que não se deve julgar todo o tempo passado em frente a telas da
mesma forma. E cita os próprios desafios que enfrenta para criar seus dois
filhos, de seis e oito anos.
"Eles
não deveriam ficar em frente a telas tão cedo", admite. "Mas a
realidade é que eu tenho de cozinhar o jantar. E a Vila Sésamo era uma ótima
forma de ficarem concentrados. Eu podia colocar comida na mesa. E eles podiam
assistir a Vila Sésamo. E, como pai, eu assumia a tarefa de perguntar o que
eles haviam aprendido (no que haviam visto)."
Enquanto
o tempo que as crianças passam em frente a telas continua sendo um assunto em
aberto, Laurent acredita que limitar o uso de tecnologia não significa
restringir o acesso por completo. "Não quer dizer que precisamos afastar
(a tecnologia) totalmente e dizer que nunca vamos usar um computador em nossas
vidas."
"Significa
entender quando é uma boa ideia (usar a tecnologia) e qual é a idade em que a
criança tem capacidade de lidar com isso", explica Lapus.
Colleen
Hagerty
BBC
News, San Francisco Bay
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