Uma
equipe de investigadores da École Normale Supérieure, em Paris, incluindo a
portuguesa Mariana Babo-Rebelo, concluiu que existe uma interação entre o
cérebro e o coração, que define, numa pessoa, a consciência de si própria.
"Há
uma interação entre o cérebro e o coração, que define o sujeito",
sustentou à Lusa Mariana Babo-Rebelo, a finalizar o doutoramento no Laboratório
de Neurociências Cognitivas da École Normale Supérieure.
Para
chegar a esta conclusão, a equipe, liderada pela cientista Catherine
Tallon-Baudry, socorreu-se da magnetoencefalografia, técnica que permite mapear
a atividade do cérebro através da medição dos minúsculos campos magnéticos
produzidos por correntes elétricas dos neurónios (células cerebrais).
Vinte
jovens saudáveis, entre os 18 e os 30 anos, foram submetidos a esta técnica.
Enquanto olhavam para um ecrã, os seus pensamentos eram, de vez em quando,
interrompidos por um sinal, um 'flash', que aparecia nesse ecrã.
Os
investigadores pediram, depois, aos participantes, para que se lembrassem do
pensamento que tinham tido antes de serem interrompidos pelo 'flash' e para
dizerem se o pensamento se relacionava com eles próprios.
A
equipa analisou a atividade do cérebro durante os pensamentos que os
participantes tiveram nos dois segundos que antecediam os 'flash' no ecrã.
Posteriormente,
mediu a resposta do cérebro ao batimento cardíaco.
"A
cada batimento cardíaco, o coração envia um sinal elétrico para o cérebro, que responde
a esse sinal. Uma resposta da qual podemos medir a amplitude", assinalou
Mariana Babo-Rebelo, que realizou o seu mestrado no laboratório do
neurocientista português António Damásio, nos Estados Unidos.
O
grupo de investigação da École Normale Supérieure avaliou os sinais emitidos
por dois batimentos cardíacos antes de cada 'flash' e a atividade produzida
pelos neurónios a seguir a cada um dos batimentos.
Mariana
Babo-Rebelo explicou que, "enquanto o sinal cardíaco é o mesmo, não havia
aceleração", o sinal cerebral é diferente. "Quanto mais amplo, mais a
pessoa está a pensar em si", advogou.
Para
a investigadora, o estudo é "mais um passo para a compreensão da
'consciência de si'".
A
equipa propõe-se desenvolver novas experiências para confirmar os resultados
obtidos e estudar a interação do cérebro com outros órgãos, nomeadamente o
intestino, que, segundo Mariana Babo-Rebelo, "pode estar a
participar" na definição da consciência da pessoa.
Além
disso, os cientistas querem aferir se, por exemplo, existe alguma alteração
nesta interação em doentes depressivos e esquizofrénicos, em que a noção de
consciência de si próprios diverge.
Os
resultados da investigação foram divulgados, esta semana, na publicação
científica The Journal of Neuroscience.
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